As cotas raciais do vestibular como manifestação do Estado de Exceção

  • Dario Palhares Universidade de Brasília
  • Íris Almeida dos Santos
  • Antônio Carlos Rodrigues da Cunha
Palavras-chave: Educação, direitos humanos, a igualdade, a discriminação, racismo

Resumo

Existe uma inter-relação entre Bioética e Educação, conforme explicitado na Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos e na Declaração Universal dos Direitos Humanos. A Universidade de Brasília iniciou um programa de ação afirmativa pela reserva de vagas nos cursos de graduação para pessoas negras. Em primeiro lugar, foi feita uma análise investigativa dos dados e contradições resultantes dessas quotas. Em seguida, a re- flexão aborda essa questão sob a ótica do Estado de Exceção. A população brasileira é altamente miscigenada. As pontuações dos potenciais beneficiários das cotas e os outros candidatos se sobrepõem. A questão racial envolve uma herança biológica, a qual se transpõe como uma herança de vantagens e privilégios ao longo de gerações, o que é contra o Estado Democrático de Direito. A implantação das quotas por raça no vestibular à universidade exigiu a criação de um júri racial, o qual apresenta estruturas típicas de um tribunal de exceção. A experiência na universidade serviu como base para a proposta de outras leis com viés racial.

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Como Citar
Palhares, D., Santos, Íris A. dos, & Cunha, A. C. R. da. (2016). As cotas raciais do vestibular como manifestação do Estado de Exceção. Revista Latinoamericana De Bioética, 17(32-1), 150–167. https://doi.org/10.18359/rlbi.1897
Publicado
2016-11-16