Doping genético e eugenesia: diálogos além do esporte

Palavras-chave: Doping genético, direito ao patrimônio genético não modificado, direito das futuras gerações, eugenia

Resumo

A engenharia genética trouxe possibilidades antes inimagináveis, em que há pouco tempo atrás era somente vista em filmes. Daterapia gênica, visando a uma correção ou cura de uma enfermidade, passa-se a possibilidade do melhoramento genético, atualmente vislumbrado no mundo dos esportes com o doping genético. Mas, o doping genético não estaria violando o direito ao patrimônio genético não modificado? Ainda que a intervenção genética não se transmita aos descendentes, haveria um melhoramento genético, que afetaria o genoma do atleta e o diferenciaria dos demais atletas e outros indivíduos, ferindo o princípio da igualdade em detrimento da autonomia privada, podendo-se em falar inicialmente em uma relação de dominação, ainda que seja em razão de desempenho físico no esporte. Neste sentido, estas inovações, que perpassam o campo da engenharia genética, incutem uma preocupação acerca da manipulação genética nas futuras gerações, ponto de discussão não somente biomédico, mas também bioético e biojurídico. Assim, surge uma inquietação se esses novos avanços podem afetar a dignidade humana diante de uma possível eugenia, devido à projeção de pessoas e a consequente discriminação por determinada identidade genética. Junto a isto, objetiva-se neste artigo investigar se a dopagem genética ofenderia o direito ao patrimônio genético não modificado e o direito das futuras gerações, levando a uma nova forma de eugenia, ao não permitir o exercício de iguais liberdades fundamentais. Para tanto, faz-se necessária uma pesquisa com base em autores de bioética e biodireito, além de textos legais nacionais e internacionais que envolvem o tema. Imprescindível a discussão de tais questões, principalmente com a proximidade dos Jogos Olímpicos de Verão no Brasil neste ano de 2016, evento alvo para ocorrer os primeiros casos desse método de dopagem. É neste sentido que se justifica o tema desta pesquisa, para reconhecer a necessidade de trazer o doping genético não só para o meio esportivo, mas junto a uma discussão bioética e jurídica, questionando-se as implicações que tal prática possa trazer para a humanidade.

Biografia do Autor

Tiago Vieira Bomtempo, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil
Mestre em Direito Privado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil. Especialista em Direito Público pelo Instituto de Educação Continuada da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil. Investigador do Instituto de Investigação Científica Constituição e Processo, cadastrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico brasileiro. Advogado e membro da Comissão de Bioética e Biodireito da Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Estado de Minas Gerais. Técnico em Biotecnologia e Professor universitário.

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Biografia do Autor

Tiago Vieira Bomtempo, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil
Mestre em Direito Privado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil. Especialista em Direito Público pelo Instituto de Educação Continuada da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil. Investigador do Instituto de Investigação Científica Constituição e Processo, cadastrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico brasileiro. Advogado e membro da Comissão de Bioética e Biodireito da Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Estado de Minas Gerais. Técnico em Biotecnologia e Professor universitário.

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Como Citar
Bomtempo, T. V. (2016). Doping genético e eugenesia: diálogos além do esporte. Revista Latinoamericana De Bioética, 16(31-2), 82–101. https://doi.org/10.18359/rlbi.1816
Publicado
2016-07-11